27/06/13

Professores em luta - valeu a pena!

Ao longo das últimas semanas, a luta dos professores em defesa das suas condições de trabalho, da dignidade da profissão docente e da qualidade da Escola Pública atravessou uma fase que foi intensa e difícil, mas foi proporcionalmente gratificante.
Mais uma vez se confirmou que, quando um grupo profissional se mobiliza, organizadamente e em unidade, com objetivos claros e formas de luta adequadas, é  sempre possível  construir vitórias, ainda que parciais. 
Podem não ser certas as conquistas. Podem os ministérios, que agora cedem à pressão da luta, tentar, amanhã ou daqui a uns meses, reverter os compromissos que foram obrigados a assinar.
Certamente o tentarão, mas sabem a força e a determinação que enfrentam.
No momento em que o ministro Crato decidiu requisitar todos os professores para o serviço de exames do passado dia 17, o efeito produzido foi o oposto do pretendido. A indignação provocada por esse atropelo trouxe para a greve professores que estavam, até aí, menos mobilizados e que se sentiram usados como se fossem um contingente de potenciais fura-greves disponíveis para substituirem os colegas em luta. A resposta foi o crescimento da mobilização e a adesão clara de mais de 90% dos professores e educadores.
 Este processo de luta foi uma lição e este fim de ano letivo foi um tempo de aprendizagem para muitos docentes e para outros trabalhadores que, por vezes, chegam a pensar que as políticas dominantes são imparáveis
Lutar valeu a pena. 
Vale sempre a pena!

14/06/13

Professores em serviço máximo

A UMA CONVOCATÓRIA GERAL OS PROFESSORES RESPONDEM COM GREVE TOTAL!

Pelo facto de não terem sido decretados serviços mínimos não há qualquer restrição à adesão à Greve.

12/06/13

PROFESSORES EM LUTA

  • Contra a mobilidade especial e os despedimentos.
  • Contra os cortes salariais.
  • Contra o horário de trabalho de 40 horas.
  • Contra as medidas que visam destruir postos de trabalho.
  • Em defesa de horários de trabalho adequados.
  • Em defesa da escola pública e de todas as funções sociais do estado. 
O nível de adesão quase total verificado nas greves às reuniões de avaliação convocadas para os dias 7 e 11 de junho (e não realizadas) constitui motivo de prognóstico otimista para o desenvolvimento do processo.
Por sua vez, a decisão do Colégio Arbitral, hoje tornada pública, decidindo pela não convocação de serviços mínimos para o dia 17 de junho, é uma clara derrota das tentativas de chantagem do governo.
O acórdão do Colégio Arbitral refere que "pese embora coincidente com o 1.º dia de exames finais nacionais do ensino secundário, não afeta de modo grave e irremediável o direito ao ensino na sua vertente de realização dos exames finais nacionais, não se estando por isso perante a violação de uma necessidade social impreterível".
Fica, assim, ainda mais claro que era mistificadora e intelectualmente desonesta a propaganda baseada no argumento de que a greve inviabilizaria os exames e prejudicaria alegados interesses dos estudantes e suas famílias. 
Na verdade, as razões que mobilizam os professores para estas greves são inseparáveis dos interesses dos estudantes, das famílias, da população em geral e da reivindicação social de uma escola pública de qualidade.
As reivindicações dos professores, as formas de luta adotadas, a oportunidade com que se desenvolvem e o nível de mobilização que têm manifestado convergem para reforçar a confiança de que, em unidade, vale a pena fazer frente às políticas do governo.  
No entanto, a luta está longe do fim.
Os próximos dias e ações - nomeadamente a manifestação do próximo sábado e a greve do dia 17 - serão decisivos.
Se os professores mantiverem a capacidade de afirmação e de unidade que têm demonstrado, este é um processo de luta que tem condições para ser bem sucedido e para se afirmar como um precioso contributo para a luta mais geral contra a destruição das funções sociais do estado e em defesa da escola pública.


28/03/13

O Partido com paredes de vidro - Matosinhos

 
No próximo dia 6 de abril, a partir das 16 horas, realiza-se na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, um debate com o tema «O Partido com paredes de vidro».
Esta iniciativa constitui a sessão inaugural da exposição sobre Álvaro Cunhal, «Vida, pensamento e obra: o exemplo que se projeta na atualidade e no futuro».

24/03/13

Óscar Lopes (1917-2013)

"Mas toda a história humana deste planeta pode acabar amanhã, ou daqui a um mês. E é por isso que tudo quanto vale alguma coisa no mundo, seja a ciência, seja a arte; seja a imaginação , seja o progresso; seja a honra, seja o amor; sejam as crianças, sejam as rosas; seja a vida, seja o Espírito, no sentido mais autêntico, criador e digno da palavra espírito - tudo, mas absolutamente tudo, cabe hoje neste bem supremo, que é preciso salvar, a Paz, a «Paz áurea, divina» como diz Camões, no poema em que exalta a nossa coragem nacional."  
 
Com estas palavras, terminou Óscar Lopes  a Oração de Sapiência que proferiu, em 1 de outubro de 1953, no Liceu que então se chamava D. Manuel II, e que, em 2007, seria publicada em livro com o título «As mãos e o Espíriro».
 

21/03/13

Enchidos à moda do P.S.

O texto que a seguir se transcreve é um documento da Organização de Matosinhos do PCP e denuncia mais uma daquelas histórias que, embora nos deixem sempre indignados, lamentavelmente, não nos surpreendem.
O título «Enchidos à moda do PS» é da minha responsabilidade.
 
PCP repudia utilização de excursão para apoio partidário ao PS
 
No passado dia 10 de Março de 2013, teve lugar uma excursão, saída de S. Mamede de Infesta, cujo propósito era uma visita à Serra da Estrela. Os bilhetes da referida excursão foram vendidos na Junta de Freguesia de S. Mamede de Infesta, com o preço de 10 euros, que incluía um almoço.
Para espanto de muitos dos integrantes, na sua maioria idosos, dos sete autocarros que saíram em direcção à Serra da Estrela, a excursão parou em Oliveira do Hospital, para uma visita à Feira do Queijo e Enchidos da referida localidade.
Várias pessoas manifestaram a sua surpresa e, pouco depois, indignação, ao perceberem que tinham sido utilizadas para o “banho de multidão” que, segundo vários órgãos de comunicação social, António José Seguro teve na referida feira.
O PCP de Matosinhos condena veementemente este tipo de comportamentos que instrumentalizam cidadãos com vista a retirar benefícios partidários, colocando os matosinhenses ao serviço de uma luta interna do Partido Socialista em que a maioria não quer, mais uma vez, participar.
Para o PCP de Matosinhos, é inaceitável que uma Junta de Freguesia, que deve estar aos serviço das populações, possa servir de angariação de apoiantes partidários, seja qual for o partido envolvido.
O PCP de Matosinhos apela à população que, com o aproximar das eleições autárquicas, fique atento e denuncie qualquer tentativa de manipulação e instrumentalização daquilo que são os seus anseios e desejos de um futuro melhor.
18 de Março de 2013

08/03/13

8 de março

POEMA DOS BRAÇOS NUS DAS MULHERES

Como o dia estivesse muito quente
as mulheres saíram de casa e foram à sua vida
com blusas sem mangas.
A carne dos seus braços
erguidos ao alto para alcançarem as argolas do autocarro
eram veios de luz voluptuosa e cálida.
Apelo de escultor
que esculpe trauteando melodias.
Iam todas afogueadas de calor,
de calor feminino,
e por isso eram largas as cavas das suas blusas
e delas emergiam os braços levantados
para alcançarem no alto as argolas do autocarro.
Era com aqueles braços nus,
desprendidos das argolas do autocarro,
que aquelas mulheres na hora permitida,
cingiam e apertavam
os corpos horizontais dos seus companheiros.
Mas não era nisso que elas iam a pensar.
Elas iam a pensar no seu trabalho quotidiano,
no ir e vir,
no andar a correr,
no cozinhar,
nas compras,
no emprego,
no dinheiro que não chega,
e pensavam, com os olhos parados e distantes,
enquanto se agarravam às argolas do autocarro, noutra vida melhor,
sem ir e vir,
sem andar a correr,
sem horas para isto e para aquilo,
livres,
livres,
livres e independentes,
para então cingirem e apertarem nos seus braços nus
os corpos horizontais dos seus companheiros.
António Gedeão, in Novos Poemas Póstumos

06/03/13

Nos 92 anos do PCP

SER COMUNISTA, HOJE

Esperança:

é a maneira
como o futuro fala
ao nosso ouvido.
Depois
há que saber
organizá-lo.
Então
os comunistas entram em acção.
Poema de Mário Castrim

02/03/13

2 de março de 2013

 
Recomendo a leitura do artigo de Miguel Urbano Rodrigues, intitulado «As ideias transformam-se em forças quando as massas as assumem», publicado em 


15/01/13

26 de janeiro - DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Mais desemprego
Professores dos quadros em risco de despedimento
Mobilidade
Corte total do salário nos 3 primeiros dias de doença
Mais Mega-agrupamentos
Municipalização da Educação
Aumento do horário de trabalho
Maior componente letiva
Despedimento de professores dos quadros 
Perante tudo isto, não podes ficar em casa!

09/01/13

Os Filhos da Liberdade

Acabei de ler o belo «Os Filhos da Liberdade», leitura que constituiu uma agradável surpresa.
O autor, o francês Marc Levy, é um daqueles escritores que ocupam muito espaço nos expositores das livrarias, com grandes tiragens, muitos títulos, referências publicitárias a adaptações de obras ao cinema e vistosas frases de divulgação de milhões de exemplares vendidos e dezenas de traduções editadas.
No meu caso, estes seriam motivos de desconfiança ou mesmo de rejeição. Os mesmos motivos por que nunca li, até hoje, nenhum livro de José Rodrigues dos Santos, Miguel Sousa Tavares, Ken Follett, Dan Brown, Danielle Steel, Nora Roberts… Não afirmo que dessas águas não beberei, mas o tempo é escasso e, nas opções das minhas leituras e releituras, costumam dominar outros critérios.
Para a leitura deste livro, fui atraído mais pelo tema do que pelo facto de se basear em experiências vividas pelo pai e por um tio do autor. «Os filhos da Liberdade» narra a participação de jovens, com idades entre os dezasseis e os vinte e poucos anos, na Resistência Francesa contra a ocupação alemã, as milícias fascistas e os colaboracionistas adeptos de Vichy. Eram, sobretudo, filhos de imigrantes (polacos, italianos, espanhóis, romenos, húngaros) que, arriscando tudo pela liberdade, integravam a FTP-MOI (Francs-tireurs et partisans – main-d'œuvre immigrée).
Os atos de heroísmo e algumas traições, os sonhos e os medos, as dúvidas e as certezas, as pequenas alegrias e os momentos de sofrimento atroz são tratados com comovente sensibilidade, mas sem pieguice, através duma escrita simples e correta.
«Os filhos da Liberdade» não virá, certamente, a ser um clássico da literatura francesa do século XXI. No entanto, além de proporcionar momentos emocionantes de leitura, tem todas as condições para ser uma obra exemplar na formação cívica da geração que tem hoje a idade dos heróicos protagonistas.


01/01/13

Manifestação nacional de professores - 26 de janeiro

Face à difícil situação que se está a viver no ensino, a "resposta imediata" que os professores podem dar é voltar à rua. Por isso, o Secretariado Nacional da FENPROF, reunido nos dias 13 e 14 de dezembro, decidiu convocar uma grande manifestação nacional de professores para o próximo dia 26 de janeiro (um sábado), em Lisboa, com concentração no Marquês de Pombal.

Em conferência de imprensa realizada no final daquela reunião, Mário Nogueira sublinhou a importância de uma intensa mobilização nas escolas para esta ação de luta e protesto, revelando que serão convidadas todas as organizações sindicais de docentes, além de outras estruturas. "O apelo", realçou Mário Nogueira, "dirige-se, desde, já a todos os professores, sindicalizados ou não".
urgente uma profunda alteração do rumo dado pelas políticas do governo. É urgente uma profunda alteração das políticas da educação e das outras áreas sociais. É urgente a demissão deste governo".
A Direção da FENPROF chamou a atenção para três prioridades da ação sindical, no momento presente:
 
•A defesa da escola pública de matriz democrática, tal como a Constituição da República a consagra;

•A defesa da profissão docente, combatendo o desemprego, a precariedade e a instabilidade;

•A defesa da qualidade da educação.

adaptado de www.fenprof.pt

Ano Novo

Depende de nós que este seja
um Ano Novo com futuro!

09/12/12

Papiniano Carlos (1918-2012)


A noite ainda não acabou, amigos, e eu vos falei longamente, sem vos ter contado tudo quanto tinha para vos contar. Mas eu voltarei, se achardes que vale a pena, e comigo virão os homens e os bichos, as pedras e as árvores - tudo quanto está sofrendo e esperando desde o fundo dos tempos.
(...)
E só tenho pena que as palavras vulgares da minha boca de terra tão pouco possam exprimir. Por isso vos peço, amigos, vos prepareis, vinde para a estrada esperar que Nana passe com a sua música maravilhosa. A esta hora sua harmónica está enchendo as estradas de música, ele está seguindo em busca do seu Rio - e é mesmo como se amanhecesse no mundo, amigos.
(Papiniano Carlos, in Terra com Sede)

11/11/12

KONTRA KORRENTE

Só hoje conheci este blogue que, na minha opinião, merece ser visitado e lido atentamente.

07/11/12

Excerto de «JUBIABÁ»

Mas agora o negro olhava com um outro respeito os trabalhadores. Eles podiam deixar de ser escravos. Quando eles queriam, ninguém podia com eles. Aqueles homens magros que vieram da Espanha e viviam nos estribos do bonde cobrando passagens, aqueles negros hercúleos que carregavam fardos no cais ou manejavam as máquinas nas oficinas de eletricidade eram fortes e decididos e tinham a vida da cidade nas mãos. No entanto passam rindo, mal vestidos, os pés no chão muitas vezes, e ouvem insultos dos que se acham prejudicados com a greve. Mas eles riem porque agora sabem que são uma força. Antônio Balduíno também descobriu isto e foi como se nascesse de novo.
Jorge Amado

28/10/12

PRIMEIRA LIÇÃO -poema de Lêdo Ivo

PRIMEIRA LIÇÃO

Na escola primária
Ivo viu a uva
e aprendeu a ler
Ao ficar rapaz
Ivo viu a Eva
e aprendeu a amar
E sendo homem feito
Ivo viu o mundo
seus comes e bebes
Um dia no muro
Ivo viu o mundo
a lição da plebe
E aprendeu a ver
Ivo viu a ave?
Ivo viu o ovo?
Na nova cartilha
Ivo viu a greve
Ivo viu o povo

IVO, Lêdo. Antologia P
oética, Edições Afrontamento

14 NOV. GREVE GERAL (1)



05/09/12

Regresso às aulas

Semanas antes de as férias terminarem, já a publicidade, televisiva e não só, nos entupia os olhos e os ouvidos com promessas e cantigas relacionandas com o regresso às aulas.
Ontem, foi para mim e para milhares de professores o dia do regresso à escola e do início da preparação do ano letivo.
Até aqui, nada de especial, além das tradicionais reuniões e da multidão de documentos a elaborar, alguns deles realmente necessários e produtivos.  
O que, de facto, foi novo neste arranque do ano escolar foi o brutal despedimento coletivo de professores.
Graças à ação persistente dos sindicatos da FENPROF, as televisões e os jornais vão divulgando números brutais e não conseguem esconder a afluência aos Centros de Emprego. Mas na realidade de cada escola (de todas as escolas), mais do que os números, vivem-se as situações concretas dos colegas de trabalho que fazem falta para o funcionamento dum sistema educativo que continuamos a querer público, democrático e da qualidade.
Aqui, em cada escola, os professores despedidos sem necessidade nem justa causa têm nome, têm rosto,têm amigos que conhecem a sua situação familiar, têm alunos que vão perguntar por eles e, sobretudo, têm provas de competência evidenciadas por anos de trabalho. 

08/08/12

FÉRIAS (sem subsídio)

A partir de amanhã e até ao fim de agosto, este blogue interromperá a sua (pouca) atividade.

Vou estar por aqui
a passar uns dias de férias. Espero que com menos nuvens do que no dia em que tirei esta fotografia.

Vou descansar aqui. 
 

Não vou utilizar a internet.

Vou, finalmente, arranjar tempo para ler algumas obras de Arnaldo Gama.

Vou passear, a pé e de bicicleta, em sítios como estes.

Verduras



17/06/12

Vivam, apenas

Vivam, apenas.
Sejam bons como o sol.
Livres como o vento
naturais como as fontes.
Imitem as árvores dos caminhos
Que dão flores e frutos
Sem complicações.
Mas não queiram convencer os cardos
A transformar os espinhos
Em rosas e canções.
E principalmente não pensem na Morte.
Não sofram por causa dos cadáveres
Que só são belos
Quando se desenham na terra em flores.
Vivam, apenas.
A morte é para os mortos.
                             José Gomes Ferreira

Há precisamente 35 anos, copiei este poema num postal que escrevi a uma namorada, assinalando o seu 21.º aniversário.
Hoje, ao copiá-lo aqui, envio um beijo de parabéns à mesma namorada de sempre.

13/06/12

ENTRE AS FLORES DE JUNHO

Texto de CÉSAR PRÍNCIPE publicado em http://www.resistir.info/portugal/vasco_alvaro_11jun12.html

As tuas cinzas jazem num canteiro No último combate com a fatalIdade No derradeiro encontro das Quatro Estações Assim te semeaste nos Jardins da Terra Assim respondeste às bandeiras nos túmulos numa tarde de sol para todos nós Entre as flores de Junho

Álvaro

Saiu uma nuvem de adeus No crematório Entre as jacarandás Vestidas de roxo

Álvaro

Tu sabias que eras pó criaDor Tu sabias que eras breve mas jamais ausEnte
Álvaro

Não vale a pena dizer que não morreste Vale a pena dizer o que deve ser dito Que nos ensinaste a viVer e a morrer

Álvaro

Não repetirei os passos da tua vida Não recontarei os passos da tua morte Somente lembrarei que a História da Humanidade e a História de Portugal estiveram no teu cortejo e bem se vê que continuarão a precisar do teu nome Para escreVer o nome do Homem

Álvaro

Lámpara Marina em cada anoitecer Na melancolia recliNada nas janelas de Lisboa

Álvaro

Dir-te-ei Continuas presEnte no mundo Embora te tenhas ausentado em Junho

Álvaro

Nunca será em vão chOrar por ti Mas cantaremos todos os dias Até que amanhã seja já hoje

11/06/12

É CLARO QUE SOUBE

Texto de CÉSAR PRÍNCIPE publicado em http://www.resistir.info/portugal/vasco_alvaro_11jun12.html

É claro que viveste e eu soube É claro que morreste e eu soube

Mas tanto me custou desPedir-me Mas tanto me impediu de te rever É claro que nem telefonei à Aida Pensei em redimir-me com uma carta sem pêsames Logo que a resPIRAção autorizasse os meus dedos a escreVer o teu nome É claro que continuas meu companheiro O da vida esperada O da morte inesperada Não te vou recorDar os tempos em que os sonhos eram ilegais e que tu e outros legalizaram Cumprindo o deVer das armas que raramente se usam para sonhar É claro que viveste e eu soube É claro que morreste e eu soube Estou em Agosto e quero dizer àqueles que te apeLidaram de louco Que realmente bem vistas as coisas Só um louco é justo Só um louco é herói Só um louco é poeta E tu Companheiro Cometeste a louCura de aMar o teu Povo Num tempo em que outros Às claras e em segredo Se punham ao serViço do eu e do medo

Recordamos a tua gravata aos ventos da Ibéria Os teus gestos de um Novo Estio na hora de aproFunDar o sonho ou vogar à superfície Depois de Setembro Depois de Março Depois do Passado É claro que viveste e eu soube É claro que morreste e eu soube É claro que exististe antes de nascer e que existirás depois de morrer Porque não és somente um nome a fixar na História mas um nome para transforMar a História Soubeste ser Português e ser Universal Soubeste ser General e ser Soldado Soubeste ser Engenheiro e ser Operário Assim Foste o Governante a quem chamámos Chamaremos Companheiro Porque tu foste propriedade e não proprietário de multidões Porque o teu sonho não foi anDar aos ombros das multidões Mas anDar com as multidões aos ombros Além disso Companheiro Foste um General com Biblioteca Por isso Poetas Escritores Pintores Cantores te dedicaram as elegias inaugurais

É claro que viveste e eu soube É claro que morreste e eu soube

Porque eu já sabia que eras o Vasco da Índia Que fora ignOrada em todas as partidas Eu sabia que declaraste ALMADA o Novo Promontório O das especiarias de cravos O das caraVelas sem escravos Foi então que os senhores de muitos séculos se ALVOroçaram com o Adamastor O Gonçalvismo Sim Senhor E claMARam por socorro aos restantes Senhores do Mundo Foi então que perceberam que se aproximava No meio de Camponeses e SolDados Artistas Professores Funcionários Operários e Marinheiros Cristãos e Ateus com fé no Homem A tempestade temida pelos Geógrafos desde o desenho dos primeiros mapas Temiam eles Ainda temem que o sol não inunde apenas as praias

E que à beira-mar irrompa um arco-íris

ProclAmando

Existe
Um Mês chAmado Abril
Existe
Um Homem chAmado Vasco

Maria Keil (1914 - 2012)




18/05/12

3 poemas de Francisco Miguel, com um beijo para a Graciete

Ao publicar hoje estes três pequenos poemas de Francisco Miguel, recordo uma já distante noite de Julho de 1974, quando o autor visitou um acampamento da UEC em que participei, para partilhar experiências da resistência.
Recordo, também, que o livro de onde transcrevo os poemas  - «Sementes à Terra» - foi o presente que a Olga me ofereceu na primeira Festa do Avante! a que fomos juntos, em 1977.
Aproveito para deixar um beijo de parabéns à Graciete, a mais assídua comentadora deste blogue, pelos seus 80 anos.

DOIS HOMENS ESTÃO EM LUTA

Dois homens estão em luta
e apenas um tem razão,
há um deles que disputa,
porque trabalha, labuta,
e o outro come o seu pão.

SOB A TERRA ESTÁ A ÁGUA

Sob a terra está a água
muitas vezes a mais pura
sob a brutal repressão
a liberdade futura.
(Junho, 1961)

DE TUDO, O CERTO E SEGURO

De tudo, o certo e seguro
de uma forma de viver
é ter presente o futuro
ter o direito de ser.
(11/1/ 1970)

26/04/12

Obrigado, António


Para a aula do dia 24 de abril (alunos de 7 e 8 anos) hesitei entre «O Veado Florido», de António Torrado, e «O Tesouro», de Manuel António Pina.

O primeiro aborda o valor da liberdade através, da bela história do animal que é aprisionado por ter flores, mas que não  pode florir na prisão. O segundo descreve a tristeza dum povo a quem roubaram o tesouro da liberdade, narra a revolução dos cravos e valoriza a necessidade de preservarmos o tesouro para que não volte a ser roubado.

Optei pelo segundo, lemos «O Tesouro» e falámos muito.

Falámos dum tempo estranho em que os meninos e as meninas brincavam separados, muitas crianças iam descalças para a escola e muitas começavam a trabalhar na idade em que deviam ter começado a aprender a ler. Falámos de aldeias onde as casas não tinham água canalizada nem eletricidade, das famílias que não podiam comprar carne, dos bebés que nasciam em casa por falta de médicos.

Foi preciso explicar que esse tempo não era tão distante como o de  D. Afonso Henriques.

A matemática ajudou: 2012 – 1974 = 38     
Falámos de censura, de livros proíbidos, de polícias que ouviam as conversas, de prisões, de torturas…

Uma aluna disse que o avô “começa a chorar se lhe falarem da guerra porque lembra-se dos amigos que morreram”. Outra disse que a mãe lhe contou que, nesse tempo, as mulheres não tinham nenhuns direitos.

No fim da aula, já a sair da sala, o António disse-me:

- Bom feriado, professor e… Viva a Liberdade!


25/04/12

O teu rosto será o último

O facto de um livro ser distinguido com um prémio prestigiado  não constitui, em princípio, uma motivação para que o compre ou leia, por muito que o coloquem em espaços privilegiados nas montras das livrarias. 
No entanto, a informação da contracapa e das badanas deste primeiro romance de João Ricardo Pedro despertou-me alguma curiosidade.
E valeu a pena...
Cinco minutos depois de sair da livraria, estava preso à estranha morte do homem que saiu de casa antes das sete  horas da manhã do dia vinte e cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro... 

Em duas centenas de páginas, agrupadas em capítulos curtos, percorrem-se várias gerações duma mesma família, numa ação que decorre em diferentes espaços geográficos e em diferentes ambientes sociais e que nos confronta com o modo como cada geração transporta em si as feridas das gerações que a antecederam. 
Se a mãe de Duarte que carrega o trauma da morte do seu pai durante uma prisão pela PIDE, Duarte vive com as feridas dos traumas que o seu pai trouxe da guerra colonial.
«O teu rosto será o último» é tecido como um  aliciante labirinto de mistérios, surpresas e emoções, composto por histórias  relativamente autónomas, cujos laços comunicantes se vão revelando ao longo da leitura.
Uma obra surpreendente que, a meu ver, tem o enorme mérito de desenvolver uma estrutura complexa através duma leitura muito agradável.