Acabo de ler «Francisco Sá Carneiro - Solidão e Poder», de Maria João Avillez e, com surpresa, verifico que não encontrei neste livro o esperado elegio absoluto do líder postumamente tornado carismático. Pelo contrário, encontrei, em várias passagens, o retrato dum egocêntrico ambicioso, incapaz de colaborar em grupos ou de aceitar, mesmo dentro do seu próprio partido (ou da sua "Ala Liberal"), decisões maioritárias que fossem contrárias às suas vontades.
Duas hipóteses explicativas se me colocam:
A primeira seria que a autora esconderia, debaixo da capa de elogios relativos e condicionados, uma inconfessada inimizade ou, pelo menos, a recordação de ofensas pessoais omitidas.
Não me parece provável!
A segunda hipótese é que a personagem biografada era duma tal arrogância e dum tal individualismo que nem os seus admiradores conseguem omitir atitudes do tipo de virar as costas aos aliados perante qualquer contrariedade para, depois, regressar em força, por meio de ardis nos bastidores ou cavalgando oportunidades para que não contribuiu.
O que fica por explicar no livro de Maria João Avillez é a origem dos rendimentos do biografado, quando, a partir (pelo menos) do 25 de abril de 1974, deixa de exercer a advocacia e continuam a ser constantes as referências a prolongadas viagens ao estrangeiro, mudanças de residência e mesmo de país, estadias frequentes em hotéis de luxo, refeições dispendiosas oferecidas a numerosos amigos, aquisições de antiguidades e encomendas de obras de arte.
Fica por dizer neste livro algo que não conseguiram silenciar no tempo em que líamos «A verdade a que temos direito».
1 comentário:
Muito bem Eduardo. Nem os próprios amigos conseguem vê-lo como um deus.
Este post é mais uma denúncia dos "crimes" dessa gente.
Um beijo.
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