Recordando as minhas leituras de 2007, observo que, por coincidência, comecei o ano com «CEMITÉRIO DE PIANOS» e acabei-o com «CAL», dois belíssimos livros de José Luís Peixoto.Das duas obras identifico e destaco dois traços comuns: O primeiro é uma profunda sensibilidade na caracterização das personagens, tratadas pelo autor com a ternura e a cumplicidade que se dedica aos familiares mais queridos.
O segundo é uma abordagem do tempo como dimensão permanente, algo que não passa definitivamente, na medida em que os afectos e as memórias dos afectos tornam presentes as vidas passadas . Dois traços bem presentes no poema, publicado em «A CRIANÇA EM RUÍNAS» na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
José Luís Peixoto
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