03/02/08

JOSÉ LUÍS PEIXOTO

Recordando as minhas leituras de 2007, observo que, por coincidência, comecei o ano com «CEMITÉRIO DE PIANOS» e acabei-o com «CAL», dois belíssimos livros de José Luís Peixoto.Das duas obras identifico e destaco dois traços comuns:
O primeiro é uma profunda sensibilidade na caracterização das personagens, tratadas pelo autor com a ternura e a cumplicidade que se dedica aos familiares mais queridos.

O segundo é uma abordagem do tempo como dimensão permanente, algo que não passa definitivamente, na medida em que os afectos e as memórias dos afectos tornam presentes as vidas passadas .
Dois traços bem presentes no poema, publicado em «A CRIANÇA EM RUÍNAS»
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:

o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs

e eu. depois, a minha irmã mais velha

casou-se. depois, a minha irmã mais nova

casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,

na hora de pôr a mesa, somos cinco,

menos a minha irmã mais velha que está

na casa dela, menos a minha irmã mais

nova que está na casa dela, menos o meu

pai, menos a minha mãe viúva. cada um

deles é um lugar vazio nesta mesa onde

como sozinho. mas irão estar sempre aqui.

na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.

enquanto um de nós estiver vivo, seremos

sempre cinco.

José Luís Peixoto

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