Assinalando os 50 anos da Fuga de Peniche, o Diário de Notícias publica hoje uma interessantíssima entrevista com a poetisa Maria Eugénia Cunhal.
Registe-se, no entanto, a infeliz escolha do subtítulo «Os políticos actuais não têm estatura», quando o que a entrevistada disse foi:
"Não é por serem de hoje ou serem de ontem, é por serem os políticos que são. Acho que não é pela época que os políticos têm uma estatura e depois a deixam de ter, mas sim pelas pessoas que são e por aquilo que fazem pelo seu povo ou não fazem."
POEMA DE MARIA EUGÉNIA CUNHAL
SPARTACUS
Em cada hora
Em cada hora
Em cada dia
Século após século
os homens arremessam o teu nome ao vento
e dele saem dardos, punhais, espadas
e dele saem dardos, punhais, espadas
e dele saem pombas e flores ensanguentadas
De cada letra um filho
De cada som um eco
Teu nome-profecia
Teu nome vinho-novo
que ao terceiro dia há-de ressuscitar
nas veias do meu povo
Teu nome
que mil vezes tem sido agrilhoado
Teu nome sangue-mel
nos lábios do carrasco uma esponja de fel
Teu nome-escravo
Teu nome-espectro
fantasma de terror na noite de algozes
temido como as vozes que clamam no deserto
Teu nome-salmo
escrito em cada corpo morto
em cada cruz erguida
Teu nome-espiga
que se transforma em pão
Teu nome-pedrada construção do mundo
que será o fruto do teu gesto
Teu nome
em cada gesto do esvoaçar das asas
da gaivota presa
Teu nome
vela-acesa na catedral da esperança
do altar-homem
Teu nome
em cada grito
em cada mão
Teu nome-sinfonia
que há-de explodir com a alegria
de um átomo liberto
Spartacus!
Teu nome-irmão.
In “As Mãos e o Gesto”
Editorial Escritor
In “As Mãos e o Gesto”
Editorial Escritor
1 comentário:
Obrigada Eduardo pela maravilhosa entrevista que me deu a oportunidade de ler e pelo também maravilhoso poema de Eugénia Cunhal. Quanto aos jornalistas já sabemos o que são. Conseguem alterar o sentido do que é dito quando lhes convém.
Um beijo para os três e parabens pelo seu blog. É muito bom.
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